Quanto menos comes, bebes, compras livros e vais ao teatro, pensas, amas, teorizas, cantas, sofres, praticas esporte, mais economizas e mais cresce o teu capital. És menos, mas tens mais. Assim todas as paixões e atividades são tragadas pela cobiça. Karl Marx.

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sábado, 13 de junho de 2009

É luxo só


O relóginho em forma de peixe, que sua irmã dera no Natal, despertava todos os dias às 6 da manhã. A primeira refeição se resumia a pão dormido com manteiga e café fraco-sonhava com os luxos de uma mesa com frutas e presunto. A mulher levantava com ele pra começar a lida do dia. Ele não era desses, como seus colegas da fábrica, que achavam que a mulher ficava em casa à toa. Cuidar dos filhos e da casa não era bolinho, ele lembrava bem do dia que teve que dar conta sozinho de tudo, ficou morto quando deitou à noite. E olha que foi só um diazinho. Enquanto ia mordiscando o pão, a mulher, já pesada depois do 4º filho, arrastava as chinelas pela cozinha, preparando a marmita com as sobras do jantar da noite anterior. Ele não tinha muitos sonhos e luxos, mas pensava nas propagandas que via, dos maridos chegando na cozinha pela manhã abraçando aquela mulher magra, com os cabelos sedosos, esticando os beiços num beijo gostoso. O marido sentava numa mesa colorida de tantas frutas, com duas crianças saudáveis e comportadas- pq as crianças dos ricos eram saudáveis e comportadas?E pq tinham poucas crianças?O café da manhã da propaganda era gostoso, ele nem lembrava a última vez que abraçou e beijou a mulher, isso era coisa do passado. Não tinham tempo pra esses luxos.

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