Quanto menos comes, bebes, compras livros e vais ao teatro, pensas, amas, teorizas, cantas, sofres, praticas esporte, mais economizas e mais cresce o teu capital. És menos, mas tens mais. Assim todas as paixões e atividades são tragadas pela cobiça. Karl Marx.

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sexta-feira, 10 de abril de 2009

É uma maravilha ser colorada!!


Tricolor fazer festa antes do grenal = normal.
Índio enfiar mais um no Grêmio = normal.
Colorado ganhar o grenal = normal.
Colorado desclassificar o tricolor num campeonato = normal.
Vitória do Inter derrubar técnico da Azenha = normal.
Torcida do Grêmio quebrar o Olímpico de raiva = normal.
Direção azul completamente desorientada = normal.
Ver o Colorado ganhar mais um grenal histórico: o "Grenal do Centenário" = ESPECIAL.
P.S: Torcida do Inter comemorar depois do jogo = normal.

sábado, 4 de abril de 2009

Desconstruindo Brasília



Com essa onda das comemorações dos 50 anos de Brasília comecei a refletir um pouco mais sobre como foi a contrução da cidade. Para tanto fui atrás de informações sobre esses homens e mulheres que vieram para cá, principalmente do nordeste, para servir de mão de obra na empreitada.

Em dezembro de 1956, um mês após a aprovação, pelo Congresso, da lei que determinava a transferência da capital, 300 pessoas já haviam chegado ao local onde seria erguida a cidade. Um mês depois, eram mil. No mês seguinte, 2.500. Em 1959 os migrantes chegaram a 60 mil. A obra seria imensa e a ganância dos construtores maior ainda. O sonho de ter uma vida nova e mais digna foi vendida a muitos brasileiros para que estes viessem trabalhar na inóspita terra da nova capital.

As jornadas de trabalho eram sobre-humanas, como pagavam pouquíssimo, os operários faziam jornadas de 20 horas diárias para poderem ganhar um pouco mais. Também não havia nenhuma infra-estrutura nem preocupação com logística de transportes, fizeram-se acampamentos perto das obras para que as construtoras não tivessem ônus com condução nem com moradia. A preocupação com qualquer tipo de lazer também inexistia, depois de jornadas árduas de trabalho aliada a saudade de casa e às más condições de moradia, os operários não tinham muitas opções para relaxar e distrairem-se um pouco.

No carnaval de 1959, em um sábado de fevereiro, alguns trabalhadores tentaram ir a Luziânia-GO, para brincarem o carnaval, mas a construtora para qual trabalhavam dificultou ao máximo a liberação de transporte ao local. Os ânimos estavam exaltados. Naquele mesmo dia a comida, que era normalmente intragável, foi servida azeda, com insetos e esparadrapos. Foi a gota d'água para esses homens dilacerados pela injustiça, pela falta de respeito e pelo trabalho insano.

Muitas versões se contam deste dia, uma delas é que após ter sido negado o lazer e ter sido servida comida estragada, alguns operários começaram a quebrar o refeitório, foi então chamada, pelos capatazes da construtora Pacheco Fernandes, a temida GP (Guarda Policial da Novacap) posteriormente GEB-Guarda Especial de Brasília. O comandante pediu que fizessem fila para que os trabalhadores pudessem apanhar "em ordem" e o aviso foi para que atirassem em quem corresse. A confusão foi enorme e como muitos correram espocaram balas para todos os lados.

Para esconder o ocorrido, a GP teria levado os corpos dos que morreram para Formosa em Goiás, no entanto, um ferido escondeu-se no alojamento e foi encontrado morto no dia seguinte.

Na versão oficial foi tido como única vítima do embate.

Depoimentos de alguns dos operários que estavam no levante estão no Arquivo Público do DF, além de existirem trabalhos acadêmicos sobre o assunto e um documentário da UnB. Sabemos que o Brasil foi construído envolto em muita injustiça social e exploração. Mas ouvir relatos de uma jovem cidade- nem 50 anos, onde os trabalhadores que vieram seduzidos por um sonho de Cocanha e paraíso, tenham tido seus piores pesadelos é revoltante. Alguns relatos dizem que alguns corpos foram arrastados por tratores até o buraco da torre de TV e que ali foram enterrados.
São muitas falas sobre um fato terrível que foi calado para não comprometer a inauguração que estava próxima.

Eu quero comemorar os 50 anos de Brasília- que agora também é minha casa- mas quero que seja com transparência e que sejam homenageados aqueles que realmente construiram essa capital.