Tenho uma amiga muito sacana. E que, as vezes, me leva para suas sacanagens. Ela tem uma bela vida - não é rica, mas como o pai é diplomata, morou em vários lugares do mundo até estabelecer-se aqui na cidade. Volta e meia, ela recepciona alguns amigos estrangeiros quando eles aportam por aqui. Numa dessas ela me liga e solta: - vamos ao restaurante X esta noite? Preciso encontrar um russo e um italiano que conheci em Estocolmo. Como boa amiga que sou, aceitei na hora. O restaurante era o da moda, o do momento. Essa minha amiga gosta muito do que é in, gosta de aparências como ninguém. Deve ser por isso que está sempre impecável, lindíssima. Cheguei no horário marcado. Costumo ser pontual. Claro que ela não. Sentei-me ao balcão e 15 minutos depois senti uma lufada de vento e de perfume caro subir-me às narinas. É ela que entra escoltada por dois belos exemplares masculinos. Os dois altos, um castanho, outro meio arruivado. Ambos muito másculos. Após as apresentações corriqueiras nos sentamos na mesa reservada por ela. Noto que minha amiga está "diferente" hoje. Parece mais elétrica e mexe-se como um polvo. Não pára. Chega a ser enervante. Falamos em inglês, que eu, muito a contragosto falo - até entendo por que o francês foi substituído pelo inglês como língua "universal", mas nunca vou aceitar. A amiga convida-me para ir ao banheiro. Coisinhas de mulheres, sussura ela aos convivas antes de pegar meu braço e me arrastar. Quando fechamos a porta pergunto o pq de tanta agitação e ela revela que está tomando um medicamento milagroso para não ter apetite. Eu, que tenho pavor dessa ditadura da estética da magreza, revolto-me. Ela me garante que é "seguro" e que é apenas uma "ajudinha" para não acumular o que mais odeia- quilinhos a mais. Tenho pavor a essas futilidades, mas gosto tanto dela que relevo. Voltamos à mesa e o restante da noite foi recheada por disputas dela como o russo para ver quem entornava mais vodka- não é difícil imaginar quem ganhou..Lá pelas tantas a mistura dos medicamentos com o destilado começou a dar sinais de grandes problemas. Dessa vez foi eu que a arrastei ao banheiro. Minha amiga, sempre tão refinada, entre palavras desconexas vomitou tudo o que não comeu em uma semana. Lavou o chão e sua roupa de grife. Tentei fazer o que pude, mas seu estado era deplorável. Quando caminhamos de volta à mesa, os rapazes não disfarçaram o olhar de repulsa ao reconhecerem os restos de salada ainda pendurados em seu vestido. Fiz o que pude mas sobrou um pouco da prova do crime. O encontro estava encerrado. Chamei um táxi e levei minha amiga para casa. Ela não era a dama de sempre, falava palavrões, me xingava e xingava tanto o taxista que achei que ele iria nos largar ali mesmo. Em casa, com toda delicadeza tirei sua roupa e a coloquei na banheira. Ela ficou toda encolhida e pediu para que eu entrasse também. Me despi e quando entrei ela se aninhou em meus braços. Não sei se foi o álcool ou nossa vontade reprimida, só sei que nunca havia pensado em minha amiga daquele jeito. Nunca mais fomos as mesmas. Mas afinal, quem é o mesmo dia após o outro?
quarta-feira, 8 de julho de 2009
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2 comentários:
ahahahaha Isso já aconteceu comigo de verdade... mas sem esse amor todo..voltei pra casa acabada, vomitada e ainda tomei um esporro violento por andar bêbada por aí :P
Como diria o velho Dostoiévski, tudo o que imaginares e escreveres, já foi vivido por alguém ou ainda será.
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