Quanto menos comes, bebes, compras livros e vais ao teatro, pensas, amas, teorizas, cantas, sofres, praticas esporte, mais economizas e mais cresce o teu capital. És menos, mas tens mais. Assim todas as paixões e atividades são tragadas pela cobiça. Karl Marx.

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sexta-feira, 10 de julho de 2009

Ele vai chegar. Ele vai chegar! Os pensamentos vinham aos pulos, acompanhando as batidas do coração. A melhor parte de seu dia eram esses passos que chegavam abafados pelo tapete espesso. Era sempre aquela expectativa. Aquele amargor na boca, o suor nas mãos. Naquele dia vestia um conjunto novo, mais recatado do que da última vez. Achava que combinava mais com o homem que viria naquela tarde. Eram sempre homens que conhecia ao acaso. Na farmácia, na academia, no mercado. Ali podia entregar-se. Era seu momento. Seu canto para o prazer. O que sentia nessas tardes a fazia lembrar das antigas aulas de literatura quando leu um conto da Lispector chamado Felicidade clandestina. Agora, 30 anos depois, podia entender o que era essa felicidade. Era um sentimento de indivisível, de algo que era só seu. Depois dos passos ,veio ele. Cheio de sede, tomou-me de cheio, sem tempo para que sequer esboçasse alguma reação. As delícias que proporcionavam essas lânguidas tardes era o que preeenchiam sua vida de mulher de sociedade elegante e que sabia receber, de mãe perfeita e esposa extremada. Eram três horas que tinha somente para si. Aproveitava cada minuto. Desde a hora que frequentava lojas de lingeries e sex-shops, até o momento fatídico dos passos abafados. Cada um ensinava a sentir-se como mulher de um jeito. Tocavam-na de maneiras diversas, abrindo muitas possibilidades de prazer. Ao final, restava tomar uma ducha, colocar sua lingerie de mulher casada e séria e rumar para casa, onde teria que dar as últimas ordens para que os empregados deixassem a casa impecável para a chegada do marido. Até a simetria da toalha devia estar perfeita. O marido era muito detalhista e após os filhos terem partido, as coisas se agravaram. Mas não podia reclamar, afinal ainda tinha suas tardes. Sua felicidade clandestina.

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